sábado, 12 de novembro de 2011

JUÍZO FINAL

INFERNO DA DIVINA COMEDIA

        Lendo essa poesia que nos reporta ao Averno, fez-me lembrar de quando eu e minha mãe-vó, íamos a Igreja. O padre falava muito no inferno: “Inferno é o lugar onde estão todos os que desobedecem as leis da vida! Sejam obedientes!”, dizia ele.

   Na minha adolescência, fui para uma Igreja evangélica. E lá, também, o Inferno veio nos sermões do Reverendo: “Os que não creem, cairão no fogo do Inferno!”, também esse dizia.

   Inferno foi para mim uma palavra que marcou muito! Agora, depois de anos transcorridos, eu me deparo com um poema que fala sobre o Juízo Final e, nessa poesia, constata-se que o Inferno está dentro de nós! O inferno está no desespero, na ansiedade, na precariedade, na depressão, na falta de amor à vida!

   Acho que quem passa para a outra dimensão, se levar   mágoas, rejeições,  tristezas  e todo o tipo de negatividade sem perdão  já vai  para o inferno por conta própria. Acredito que nós nos julgamos e escolhemos opções de vida, de destino. Dentro de nós existe a essência Divina, que é indestrutível.

Essa essência é o nosso verdadeiro EU. Algo que não nasceu e não morrerá. No meio das sensações agradáveis e desagradáveis, conserva sempre a tranquilidade de um observador imperturbável.

Não depende de alimento, nem do calor, nem do frio, nem dos projetos e nem dos desejos. Conserva-se sempre plena satisfação, porque o verdadeiro EU é divino, é indestrutível.

Eis a poesia que me fez entender que inferno é um estado de espírito:

JUÍZO FINAL

  Godoy Paiva

 

Sentado o Padre Eterno, em trono refulgente,

Olhar severo envia a toda aquela gente!

 

Enquanto uns anjos cantam, outros vão levando,

Ante a figura austera desse venerando,

As almas que da tumba emigram assustadas

Em vendo o tribunal solene, majestoso,

         Em que vão ser julgadas.

 

Dois grupos são formados:

Um de cada lado!

O da direita, o Céu; o da esquerda, Averno.

E Satanás a um canto, o chifre fumegante,

Espera impaciente, impávido, arrogante,

A “turma” para o inferno.

 

Aconchegando o filho, a alma bem amada,

E que na Terra fora algo desassisada,

Uma mulher se achega e a sua prece faz,

Rogando ao Padre Eterno poupe do inferno

     O pobre do rapaz.

 

Cofia o Padre Eterno a longa barba branca,

E o óculo ajustando à ponta do nariz,

O olhar dirige então a pobre desgraçada,

    E compassado diz:

     “Os anjos vão levar-te agora ao Paraíso

E dar-te a recompensa: 0 seu descanso eterno.

Ali desfrutarás felicidades mil,

Porém teu filho mau irá para o Inferno”!

 

Um anjo toma o moço e o leva a Satanás;

Porém a pobre mãe ao ver partir o filho,

       Aflita, corre atrás!

 

E ao incorporar-se às hostes infernais,

Eis grita o Padre Eterno, em tom assustador:

      "Mulher! Para onde vais?”!!!

 

       E o que passou-se então

       Ninguém esquece mais!

 

“Eu vou para o inferno, ao lado do meu filho,

A repartir comigo a sua desventura!

As lágrimas de mãe, as gotas do meu pranto,

Acalmarão no Averno a sua queimadura!

 

Eu deixo para ti esse teu Paraíso,

Essa mansão celeste onde o amor é surdo!

Onde se goza a vida a contemplar tormento,

Onde a palavra Amor represa um absurdo!

 

Entrega esse teu céu às mães malvadas, vís,

Que os filhos já mataram para os não criar,

Pois só essas megeras poderão, no céu,

Ouvir gritar seus filhos, sem se consternar!

 

Desprezo esse teu céu! O meu amor é grande!

Imenso, Assaz sublime! E posso te afirmar

Que se não te comove o pranto lá do Inferno,

E os que no Averno estão são todos filhos teus,

O meu amor excede

Ao próprio amor de Deus!”

 

E ante o estupefato olhar do Padre Eterno,

A mãe beijou o filho… E foi para o Inferno!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Outras casinhas de passarinhos

 

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Outras casinhas que pintei e as coloquei no tronco de um

 

pé de ameixas.

CASINHAS DE PASSARINHO

 

O DONO DA CASA

Uma Corruíra está com seus filhotes na casinha de passarinho que pintei. Já se acostumou com a minha presença e no bico, carrega alimentos para os filhotes.

É muito bom ver esse morador satisfeito na casinha que agora é dele!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

FLORICULTURA

 

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Esse quadro é uma cópia.

É óleo sobre tela.

Depois que me aposentei, resolvi pintar e  enchi a casa de quadros. Pintei alguns para a filha e meus parentes e parei de pintar.

Esse eu tenho na minha sala – é um quadro minucioso por seus detalhes, mas ficou bem legal!

O tempo em curso

 

O TEMPO EM CURSO

 

 O  tempo,

O relógio,

A vida

não param.

E isso é apenas o começo.

O início de tudo,

o esplendor da vida,

do nascer do sol!

E eu estou aqui perplexa,

entrelaçam-se todos os seres humanos

e a natureza, eternamente comportada,

reluz num Arco-Íris transparente.

E no verdor das matas virgens,

rompem as cascatas,

cristalizando  as águas puras e dançantes,

como que simbolizando a plenitude da paz,

do amor,da magia,

que em silêncio,

como rios que correm quietos,

penetram as florestas sombrias.

E na mansidão do silêncio de mil noites,

correm para o mar enrubescidos,

loucos,

doidos,

arrebentando em pororocas,

que se açoitam dentro do mar –  tormentos.

Descem as cascatas

dos montes em pedras

e se lançam no precipício

dos abismos.

Um barulho enorme

retumba na paisagem exuberante

e segue esse ritmo

como se fosse uma eterna sinfonia

a inspirar  toda a criação,

encantar toda a natureza

nesse embalo.

Desce a noite e

nesse acorde

tudo fica em silêncio e

tudo dorme…

Tudo dorme…

Para, no amanhecer,

começar tudo de novo.

 

 

 

O Caminho


"Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar

Caminhante não há caminho
senão há marcas no mar…"

(Trecho do poema Cantares, de Antonio Machado)

Uma Casa que Fala

            Gosto de contemplar uma casa enfeitada pela natureza. Sou caseira, adoro casas. Casas que falam, com árvores e jardins, trepadeiras que descem e sobem os muros, árvores enormes, sombra de frescor inigualável nos verões de nossa Terra. E a casa, com toda essa natureza viva que enfeita e ilumina, parece que fala! Ela emite sons. Deve ser dos passarinhos que, de galho em galho, na primavera fazem seus ninhos e um rebuliço nos quintais; pode ser também que, nos ventos, o farfalhar das folhas das árvores se esticam e fazem sua ginástica alongada.

Há uma grama verdinha nos quintais, com trilhas de pedras que se aproximam de riachos e pequenas cascatas – é o paraíso em flor. Imagina o céu azul espelhado nesse lago!  Com uma casa assim, seu dono tem que amar as folhas que caem no outono. Ele tem que ser um nato jardineiro e saber sentir as plantas, conversar com cada broto que nasce e dar sempre boas vindas a cada primavera que vem. Bem vinda à primavera! A natureza realça o seu brilho e o esplendor em cores que dão o maior espetáculo da Terra.

Uma casa que fala sempre tem um gato em cima da poltrona, um cachorro faceiro encontrando o seu dono. Ah! Uma casa que fala, lá no fundo do quintal, tem um galinheiro. Nas madrugadas o galo canta, anunciando o alvorecer de um novo dia.  E, quando a galinha põe o ovo a cacarejar, faz a festa como se dissesse: “Vamos fazer essa casa falar!”. E dentro dessa casa, a gente olha as paredes e lá se encontram sempre fotos da família e, então, nos perdemos, admirando: “Olha como era o fulano! Já morreu! Está muito velho!”, coisas assim. Pinturas diversas, que a gente se perde a olhar e jamais se sente só, porque essa casa fala.

     A natureza, por si só, abraça essa casa, porque a casa faz parte dela. Cria uma energia que envolve seus moradores que se perdem no olhar, vendo a flor que plantou ontem e hoje desabrochou. Pendente os gerânios nas floreiras das janelas, no outro lado as alamandas amarelas e as azaléias brancas, rosas e vermelhas. Um show de cores que faz com que a alegria dos olhos seja esse espetáculo, fazendo a alma sentir mais rica, mais forte, mais sensível. Porque nessa casa, onde domina a essência da natureza, existe um som. O som da voz dos espaços e das dimensões, que provoca a necessidade de meditar e agradecer a Deus por tudo isso – porque ESSA CASA FALA!

Crônica que conquistou o 1ºlugar no Concurso de Crônicas da ACAM de 2011.
   

Meus Cinco Anos

O Pica-Pau batendo
na janela do oitão,
e no meio de botões,
a criança se entretendo,
amedrontada e sozinha,
rezava baixinho
para o temor lhe passar.

Lá fora, as vacas mugindo,
o leite quentinho ordenhado
o sol que nasce acanhado,
o orvalho do pasto sumindo
e dentro da casa grande,
aquela criança, sozinha.

Retumbava passos fortes
e o latir do cão faceiro.
Era a vó com a mamadeira
que trazia no suporte
o alimento prá criança
que alegre lhe saudou.

Passou-lhe o medo,
passou-lhe a solidão.
Guardou botão por botão.
Era ainda muito cedo,
no colo gordo da vó,
aconchegou-se a criança.

Essa criança, hoje adulta,
ainda está crescendo.
Seu interior incompleto
como estátua inacabada
parou no meio:
Da juventude e maturidade,
alucinada e pálida,
com saudades da mãe-vó.


Essa poesia foi feita lembrando o fato de quando nos meus 5 anos, minha Mãe-Vó, quando ia de madrugada tirar o leite das vacas na mangueira, me deixava entretida com um vidro cheio de botões, que eu esparramava na cama e brincava até ela chegar com a mamadeira e aí, o medo passava, pois tinha um Pica-Pau que batia no oitão da casa e eu tinha muito medo, mas lembro, que não chorava de medo... Eu aguentava firme, até minha vó chegar.

A Minha Mãe-Vó

Estavas cansada e triste
a pedir-me uma oração.
Os céus, olhei com atenção e, depois,
saciei a sede das plantas,
sorriram todas pra mim.
Os seres que eu não vi
rezaram juntos para ti
para que, nos céus, encontrasse
a alma serena e pura,
que extrai as amarguras
e apaga todas as lembranças
que levastes em tuas tranças.
Estavas serena e bela...
Os céus olhei com atenção!
Havia luz, não de vela!
E aquele manto de estrelas,
abriu-te as portas, relembro!
E sumistes a passos lentos,
as tranças já desatadas,
o amargor esmagado.
Meu Deus!
Tu estás mais leve,
alcançastes essas estrelas.
Um passo da eternidade,
que ainda sem maldade,
as estrelas brilharão...
Os que vi,
te levarão
àquela luz que clamastes,
e até lá, mais leve ainda,
serás pluma que esvoaça,
perfume que eternece
e luz que se deslumbra.


A minha querida Mãe-Vó, Amalia Lopes, que escrevi, logo após o seu falecimento em 1978.


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Que Pena!

Que pena!
Afastei as cortinas das janelas
para ver o sol nascer,
mas ele já estava alto.
Acordei tarde demais...

Que pena!
Andei pelas ruas,
só nos meus pensamentos,
E, como alma penada,
ao meu redor
só vi lamentos.

Que pena!
Enxerguei tantos tetos,
todos eles desbotados.
Sem aconchego e sem paz,
vi tudo tão amontoado!

Que Pena!
Perdi peças de um quebra-cabeças,
minh'alma está em pedaços!
O que faço?
Agora, eu não sei consertá-la.

Que Pena!
Não consigo nem ver o sol se pôr,
porque tudo está tão triste
lá fora só há tempestades,
e aqui dentro tantas goteiras.

Nem a canção mais bonita,
nem a canção mais triste,
me conforta, me enternece.
Sinto um balançar constante
que impede o adormecer.

Que pena!
O trem já partiu,
o culto já terminou,
o hino estava no fim,
e só vi o adeus de muitas mãos.

Que pena!
Eu não sei ser feliz.
Não sei dar felicidade.
E quando a recebo
ela resvala na minh'alma,
como água que desliza no corpo
e o próprio calor do corpo a seca.

Oh! Que pena!
Eu já morri há tanto tempo,
ando num mundo que não é meu,
talvez terminando uma tarefa
que ainda não foi completa.
Que pena!
Que pena!